terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ciclo de Cinema: a (i)moralidade da guerra

Foto: Henri Cartier-Bresson


Introdução

“A guerra é a coisa mais desprezível que existe. Prefiro deixar-me assassinar a participar dessa ignomínia.”
Albert Einstein


“A guerra é mãe e rainha de todas as coisas; a alguns transforma em deuses outros, em homens; de alguns faz escravos, de outros, homens livres”.
Heráclito

“Na realidade nenhuma guerra que se conheça na história, no presente ou no futuro que se possa prever, foi justa.”
Thomas Morus, in Utopia.


A teoria da guerra justa encontra as suas origens nos escritos de Cícero, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e Hugo Grotius. Por exemplo, para Santo Agostinho os critérios que definiriam a guerra justa seriam a autoridade e a causa adequada. Nos nossos dias uma teoria da guerra justa é desenvolvida por Morgan Pollard que caracteriza a Jus ad Bellum (guerra justa) de acordo com alguns critérios:

        • A causa justa, tal como a protecção dos direitos humanos;
        • Intenção correcta, que deve ser o estabelecimento da paz;
        • Proporcionalidade apropriada, com fins justos ultrapassando os meios;
        • Posição defensiva ao invés de ofensiva;
        • Uso da força apenas como último recurso após medidas económicas e diplomáticas;
        • Autoridade e liderança competentes;
        • Alta probabilidade de sucesso;
        • Limitação do uso excessivo da força;
        • Não utilização de soldados alistados e crianças;
        • Não uso intencional de tácticas ou armas malignas;
        • Uso cuidadoso de discriminação na prevenção de situações com inocentes.

Sintetizando:

        • Causa justa
        • Intenção justa
        • Autoridade legítima
        • Possibilidade razoável de sucesso

No entanto, para Thomas Morus, uma guerra nunca será justa e, assim, nunca terá uma moralidade que a suporte, o prefixo (i) implica a negação do conceito precedente e, deste modo, a (i)moralidade da guerra será a essência da negação de existência de uma guerra justa. Mas, não nos enganemos, a discussão não é de hoje, desde a primeira comunidade humana que a discussão do justo princípio da guerra é discutida e das respostas dadas surgirão os princípios de uma moral que a definam, à guerra, enquanto justa. 
Quantos fiéis ou infiéis mais terão de continuar a tombar? Quantas lágrimas e quanto sangue continuarão a ser derramados para alimentar esta contenda de carácter filosófico e nos nossos dias de carácter religioso? 
Tal como nos ‘partisans’ de Raymond Aron, aos jiadistas ‘basta não perder para ganhar’ e, deste modo, a moralidade da guerra passa a ser uma coisa tão relativizada quanto abstracta, quem é o inimigo a abater? Tu… eu; todos os que discordam…? O terreno a conquistar já não é aquele quintal; aquela longínqua colina. É a consciência de todos os homens, deste modo, o inimigo passa a ser o homem que ousa ser livre, esse inóspito e virgem ‘território’ que ameaça o fanatizado seguidor de uma ‘Moral Standard’. Assim, essa guerra justa, passa a ser um Requiem por toda a moral que ousa ter a liberdade como um farol nesta noite que se abate sobre os homens.

João Pinto

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