Luz. Alguns acreditam que no princípio de todas as coisas, houve luz.
Desde sempre, pequenas luzes, as estrelas, têm fascinado o Homem, e
foram o pilar das suas grandes construções e o tijolo dos seus sonhos.
Nas lendas e mitologias das antigas civilizações encontramos diversas
estórias onde as estrelas, ou então pequenas chamas azuis, eram os guias que
levavam os viajantes perdidos para casa.
Acho, de certa forma, que a descoberta do fogo, tenha sido motivada não
só pela necessidade de calor e proteção, mas também pelo desejo de possuir um
pouco de luz, uma luz que brilhasse mais perto de nós. Talvez possamos
relacionar a busca pelo conhecimento com as estrelas e com a descoberta do
fogo. Afinal, o auge da ciência e do poder intelectual do Homem, foi o ter
usado o fogo, para ir ao espaço, e estar mais próximo das estrelas…
Penso que, considerada a História da Humanidade, algo sempre moveu o
Homem a querer fazer mais, a querer ser mais do que era. E, por incrível que
pareça, nunca nada motivou mais o Homem do que as ameaças à sua liberdade. Na
maioria das vezes, fomos obrigados a lutar pela nossa liberdade, e as páginas da
história estão manchadas com o sangue de todos os heróis que ousaram desafiar
aqueles que queriam privá-los da sua possessão mais básica, a liberdade de
pensar e de ser.
E apesar de a Humanidade ter crescido e evoluído apesar de todas essas…
adversidades, estamos cansados.
Tal como os viajantes perdidos na mitologia Celta, ansiamos por uma luz,
uma chama que nos guie e nos leve para casa. Ansiamos por paz.
Paz, esse nome abstrato, e quase estranho, que muitas vezes não passa de
um conceito, e parece um destino inalcançável.
Mas enganam-se aqueles que pensam que a paz é um destino.
Na verdade, a paz é a jornada que nos leva a um mundo melhor, o destino
pelo qual todos esperamos.
Assim como Jorge de Sena, escreveu no seu poema, a paz é o ser da
Humanidade, e sem ela, tudo é negação, sono e morte. “ Os homens crescem em seus corações com ela”, diz ele.
E precisamos que a nossa sociedade e o nosso mundo cresçam com a paz.
Talvez ainda precisemos lutar contra aqueles que a temem, e que vão contra o
pensar e o ser.
Precisamos conquistar e construir a paz.
No que diz respeito ao “conquistar”, os Homens têm experiência, o que
para David Hume, é conhecimento. Ou seja, já sabemos como conquistar a paz, já
sabemos lutar por ela.
Contudo, será que sabemos construir a paz?
Estamos habituados à brutalidade e às guerras, mas sem dúvida,
faltam-nos habilidades no que toca à construção da paz.
Um engenheiro civil, ou um trabalhador das obras, diria que, antes de
mais nada, uma construção precisa de bases sólidas e fortes, porque são essas
bases que vão ditar a qualidade da construção.
A analogia é clara.
Então, pergunto: Que bases estamos a dar para a nossa construção? Essa
construção que é tão importante e tão cheia de significado…
Provavelmente, e infelizmente, a resposta para essa pergunta é uma
resposta negativa. Não estamos a dar bases nenhumas para a construção da paz, e
todas as tentativas de lançar uma fundação sólida, têm-se provado, até agora,
falhas.
Mesmo não sendo semelhante aos grandes pensadores do século das Luzes,
mesmo não sendo possuidora de grandes conhecimentos, gostaria de propor, de
chamar a atenção, para alguns factos e soluções que poderiam ajudar a resolver o
problema levantado.
Sabendo que a paz é o caminho para o futuro, temos que aceitar e
compreender algo claro: o futuro está nas mãos dos nossos jovens e das nossas
crianças. Então, é com eles que precisamos lançar os nossos fundamentos.
Boas bases familiares e uma boa educação seriam um bom começo. Mas tanto
o ensinar quanto o educar, estão nas mãos dos mais velhos que têm o dever, a
obrigação, de serem estrelas a iluminar o caminho dos mais jovens.
Veronica Roth, uma autora
americana, escreveu no seu livro “Divergent”, que “ O
futuro pertence àqueles que sabem o seu lugar”. Ou seja, o futuro está nas
mãos de todos os que sabem a sua origem, a sua missão/função neste mundo, e que
ao fazerem escolhas, têm em vista não só o agora, mas o amanhã, e levam em
conta o passado.
Como já vimos, o saber é experiência, o saber é construído.
Temos as ferramentas para isso. Temos a areia, o cimento, o ferro, e o
calcário. Temos a experiência dos que vieram antes de nós, temos a literatura e
as artes, que têm sido verdadeiras chamas e estrelas nessa jornada escurecida
pela simplificação e pela ignorância.
Nós, geração de hoje, temos o direito e o dever de sermos mentes
pensantes e não sermos seres formatados com pensamentos pré-concebidos e já
pensados.
“ Uma pequenina
luz, bruxuleante”, e às vezes incerta, brilhou para a Humanidade. As páginas
da história trouxeram-nos aqui, no hoje e no agora, para sermos “Seres do conhecimento e para o conhecimento”.
Por algum motivo, nós fomos escolhidos para a jornada da construção da paz.
Quer sejamos nós, a colocar a pedra gasta e polida sobre a fundação, ou os
nossos filhos e os filhos deles, nós temos uma missão. Sabemos o nosso lugar.
Pode parecer demais, dizer que o futuro está em nossas mãos. Tanta gente
já disse o mesmo, e começa a parecer um cliché.
No entanto, é verdade. Depende de mim, depende de ti, depende de cada um
de nós.
Está nas nossas mãos. Não é tarde demais.
Quem sabe, o mundo ainda possa ser um lugar melhor na nossa geração.
Quem sabe, talvez possamos ser nós a construir a paz e a deixá-la ser
uma luz, uma chama para as gerações futuras.
Marcelli Teófilo, Nº19 - 11ºD (2014/15)